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Governança e agronegócio


O agronegócio movimenta cerca de 20% do PIB brasileiro. O setor inclui, além da produção agropecuária, a indústria de insumos, armazenamento, processamento e distribuição. Os negócios são muito pulverizados e envolvem mais de 5 milhões de produtores rurais espalhados pelo território nacional. Os modelos de negócios e os tipos de empreendedores também são diversificados, incluindo tanto agroindústrias altamente inovadoras, como pequenos agricultores. O setor cresceu muito nos últimos 30 anos, com melhorias de tecnologia e produtividade. Porém, a governança ainda não faz parte da agenda de grande parte dos empreendedores. “Modernizamos em tecnologia, mas precisamos modernizar a gestão e a governança.”, afirma Manoel Pereira de Queiroz, executivo de finanças especializado no agronegócio, que fez uma apresentação sobre o tema na reunião da Comissão de empresas de controle familiar do IBGC. Segundo ele, existe espaço para a melhoria das práticas de governança adotados no setor. Confira na entrevista a seguir:



Como você avalia a governança corporativa no agronegócio?

Antes de falar de governança, precisamos analisar o conceito de agronegócio. Costumamos dividir o setor no que chamamos de antes e depois da porteira, ou seja, os negócios relacionados à produção agropecuária em si, que acontecem dentro da propriedade rural, e o restante do setor, mais industrializado e com sistemas de gestão mais avançados. Do lado de dentro da porteira, temos características muito próprias. Embora haja empresas e produtores que, mesmo sendo de estrutura familiar, têm algum nível de governança (com conselho de administração ou de família e alguns até com membros independentes e plano de sucessão definido), na grande maioria das vezes o patriarca manda e as decisões são centralizadas. Em alguns outros casos, os conselhos existem, mas não são efetivos. Todas essas realidades convivem dentro de um mesmo segmento.


Quais são as características do produtor rural?

Na média, as empresas são predominantemente familiares, com grande parte dos membros trabalhando no negócio, independentemente de vocação ou formação. Esses empresários do agronegócio são muito inovadores quando falamos em tecnologia, mas são conservadores quando se trata de costumes ou estrutura organizacional. A implantação de práticas de governança precisa superar a barreira de convencimento desse empreendedor.


Como é a estrutura societária das empresas do setor?

A maioria dos produtores rurais não opera como uma empresa formal. Existem vantagens tributárias para que o empreendedor faça negócios como pessoa física, dificultando a separação entre o patrimônio pessoal e o do negócio. Existem produtores no Mato Grosso que faturam até R$ 2 bilhões de reais como pessoa física (ou condomínio agrícola), sem CNPJ. Essa é uma grande barreira para a implementação de práticas de governança corporativa.


É possível aumentar o interesse dos empresários pelas práticas de governança corporativa?

A governança já está na agenda de parte do setor quando enfrentamos questões como sustentabilidade social e ambiental. Outro tema que também faz parte do dia a dia do empreendedor rural é a questão sanitária, que exige mecanismos de controle interno e de gerenciamento de riscos. Esses assuntos podem fomentar as discussões sobre governança entre os empresários do agronegócio.



Como a governança corporativa pode ajudar a melhorar o setor?

O setor cresceu de forma impressionante nos últimos 30 anos, com ganhos espetaculares de produtividade e redução de custos. Entre 2003 e 2018, a produção agropecuária (vegetal e animal) avançou 77%. Existe, em todo o mundo, uma grande preocupação com segurança alimentar. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) projeta que precisaremos aumentar a produção em 20% em 10 anos para atender a demanda por alimentos. Este é um cenário desafiador, mas o Brasil tem capacidade competitiva grande. A governança corporativa pode dar mais sustentabilidade econômica, social e ambiental para o agronegócio. O IBGC, as universidades, as associações do setor e as grandes empresas, em um esforço multidisciplinar, podem apoiar esse processo de desenvolvimento.


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