Desconforto favorece a inovação
Percepção de risco é motivador para processos de transformação
A percepção de risco é um dos mais fortes motivadores para a inovação, especialmente em empresas bem estabelecidas em seus mercados. Entretanto, o objetivo dessas corporações é, exatamente, diminuir essa sensação de risco e sedimentar as estruturas para manter a estabilidade dos negócios, sistemas e processos. “Sem risco não há a menor possibilidade de inovar. O mais difícil é transformar ou iniciar processos de mudança em empresas que não precisam, necessariamente, mudar”, afirma Sergio Rial, presidente executivo do Santander Brasil, no painel de abertura do 19º Congresso IBGC que discutiu legado e inovação, convergências e dilemas.
Além do desaparecimento da noção de risco entre os colaboradores, Rial relaciona outro fator de entrave nos processos de mudanças das companhias estabelecidas: a incapacidade de lidar com conflitos. Pessoas que não conseguem mudar de opinião “emburrecem” a empresa ou a torna dogmática, avalia o presidente do Santander. No cotidiano se busca convergência de opiniões e procura-se lidar com pessoas que pensam de forma homogênea. O confronto de ideias e a discussão sobre diversos pontos de vista são essenciais para a inovação. “O CEO e o corpo executivo têm que trazer para a empresa o que eu chamo de desconforto construtivo”, diz Rial.
Ao longo do processo de crescimento mecanismos de governança são estruturados para preservar o legado. As condições que garantiram o sucesso do negócio, nesse contexto, podem ser utilizadas como argumento que dificulta a inovação. “A velocidade de transformação pode trazer dilemas e o legado pode trabalhar em sentido contrário ao da inovação”, diz Tania Cosentino, vice-presidente sênior global de customer satisfaction and quality da Schneider Electric, que durante o congresso ainda ocupava a presidência da companhia para a América do Sul.
Para que o legado não se torne um empecilho para a transformação é preciso atualizar o conceito de legado e o propósito da empresa. Onde o legado pode atrapalhar é preciso adotar medidas para mitigar o impacto negativo no processo de transformação, segundo Tania. “Inserindo propósito no core business se constrói um novo legado para inspirar, atrair e reter talentos”, avalia.
Fabio Schvartsman, diretor-presidente da Vale, avalia que o legado é um ativo importante. A tradição e o conhecimento acumulado criam massa crítica, inteligência e conhecimento que serão essenciais para produzir as mudanças necessárias. “O grande segredo é trabalhar com as pessoas de dentro e não contra elas. Infelizmente, no Brasil, criou-se o mito que para revolucionar a empresa é preciso trocar todo mundo, o que é um equívoco grave”, diz.
O presidente da Vale avalia que dentro das empresas existe a informação para a transformação, mas muitas vezes ela não está organizada ou não há espaço para que ela seja apresentada. “Se quiser inovar, ouça o lado de dentro, não tente trazer a inovação do lado de fora”, recomenda.