Empresas passam por crise de confiança
Recuperação da reputação depende de mudanças na cultura organizacional no comportamento das lideranças, segundo Alexandre Di Miceli
O mundo vivencia um movimento de desconfiança em relação ao comportamento dos líderes empresariais. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Edelman, em 2015, com 30 mil pessoas em todo o mundo, mostrou que apenas 18% da população confia nos altos executivos quando se trata de dizer a verdade ou tomar decisões éticas. “Líderes empresariais e políticos são percebidos como fontes de menor credibilidade”, avaliou o professor Alexandre Di Miceli durante palestra do 19º Congresso IBGC. Em sua avaliação, a desconfiança decorre de escândalos de corrupção e da revelação de práticas comerciais pouco responsáveis, tanto no Brasil quanto em outros países.
O comprometimento da reputação afeta os resultados operacionais e a produtividade das companhias. Em sua palestra, Di Miceli apresentou pesquisa realizada pelo Instituto Gallup em 142 países que mostrou que apenas 13% dos empregados afirmavam estar engajados com o trabalho, enquanto 24% se diziam descomprometidos. O restante tinha atitude neutra, trabalhando apenas para receber o salário.
Para recuperar a confiança das pessoas, as empresas precisam realizar mudanças estruturais na cultura organizacional e no comportamento de suas lideranças. Para que as companhias passem a ser percebidas como éticas é necessário muito mais que regras de controle e programas de compliance. Além de códigos de conduta, controles internos e do reforço na definição de missão e propósito, padrões de comportamento e normas sociais devem ser compartilhadas pelos membros da organização, especialmente com exemplos vindos da alta liderança. “Sem mudança de mentalidade seria igual a enxugar gelo”, diz Miceli.
A cultura ética é a base da governança e depende de líderes conscientes, cujo valor e propósito não estejam focados apenas nos resultados financeiros. Miceli classifica a liderança em dois estilos. A de postura militar, autocrática e mercenária, sem envolvimento emocional com a companhia e focado em resultado de curto prazo para maximização da carreira pessoal. Outra é a missionária, com inteligência emocional, moral e preocupada em deixar um legado positivo. Não há empresa ética com líderes cujo valor seja apenas o dinheiro. “É essencial que a governança corporativa esteja plenamente ligada à liderança saudável e que a cultura organizacional desperte o melhor das pessoas a perseguir o propósito maior da organização”, avalia.
Inovação, ética e governança
Um dos fatores que pressionam o comportamento ético, segundo o professor Alexandre Di Miceli, é o contexto organizacional imposto pelas lideranças. São metas irrealistas que levam as pessoas ao limite, inclusive sobre o ponto de vista ético. Esse tipo de ambiente compromete a inovação, pois não abre margem para erros e resultados de longo prazo. Segundo ele, o fator em comum entre esse ambiente de inovação e a ética é a diversidade. “O sucesso empresarial do século 21 dependerá da capacidade das empresas terem governança corporativa, cultura ética, diversidade e liderança consciente na busca de propósito maior do que somente o lucro”, resume.