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Indicadores de inovação justificam investimentos de longo prazo

Conselhos também podem adotar métricas para medir como tratam inovação e para avaliação de metas da diretoria

Medir a inovação ainda é um desafio para as companhias. Indicadores tradicionais, como ebitda, fluxo de caixa e lucro não conseguem avaliar as dimensões características de empresas inovadoras. Ao mesmo tempo, métricas são fundamentais para justificar investimentos em projetos inovadores – marcados por sucesso incerto, alto índice de mortalidade e resultados de médio ou longo prazos. Ainda assim, o próprio conselho pode adotar métricas para medir como o órgão trata a inovação e estabelecer metas para avaliação da diretoria. “O conselheiro deve se questionar se tratou inovação como prioridade”, recomenda Silvio Genesini, conselheiro do Grupo Algar, Cnova NV, CVC, Verzani & Sandrini e Elemídia, que participou do painel sobre o papel do conselho na inovação e novos modelos de negócio, no Encontro de Conselheiros 2018.


A mudança de comportamento do consumidor foi outro ponto destacado por Genesini. Pesquisas de mercado já não são suficientes para entendê-lo. “Não houve somente mudança de tecnologia, mas as pessoas estão se comportando de forma diferente”, analisa. Genesini fala sobre diversos aspectos da inovação na entrevista a seguir.


O crescimento exponencial é a maneira correta de avaliar uma startup?

O sucesso de algo inovador não deve ser avaliado somente pelo crescimento. A medida correta é a margem bruta combinada com crescimento. Em geral, os conselhos medem um indicador, mas não os dois combinados. Caso você tenha margem positiva nas vendas e a empresa continua crescendo, mesmo que o negócio ainda esteja consumindo caixa, uma hora vai se tornar lucrativo. Por outro lado, se o negócio cresce exponencialmente, mas ainda não alcançou margem bruta positiva, você nunca vai ser lucrativo e uma hora vai quebrar.


Como medir inovação dentro das empresas?

A inovação nas companhias precisa de métricas e indicadores para verificar se há evolução. A literatura apresenta diversos índices aplicados especificamente a startups, mas alguns deles podem ser adaptados para empresas maiores. Um exemplo quantitativo é a criação de novos negócios e a quantidade de pessoas que estão tratando de inovação. Também existem métricas qualitativas, como a relação entre o total de propostas de novas ideias e quantas foram aceitas. Outra possibilidade é estabelecer metas, como ter pelo menos uma iniciativa com crescimento exponencial. As empresas também podem determinar número mínimo de profissionais dedicados à inovação e novos negócios.


Índices para medição de inovação também podem ser aplicados ao conselho?

Uma métrica que pode ser aplicada ao conselho é o tempo dedicado para discutir sobre inovação. Nos conselhos que participo avaliamos se dedicamos muito tempo para questões operacionais e pouco tempo para estratégias, ou se ficamos escutando apresentações de resultado e não discutimos cultura. Dois terços da reunião deve ser para discutir estratégia, cultura e inovação e em torno de um terço para acompanhamento de resultado (exceto em momento de crise ou para tratar de uma venda). O conselheiro deve se questionar se foi provocador e incentivador, se trouxe novas perspectivas para a direção e se tratou inovação como prioridade.


De que maneira essas métricas podem ser utilizadas para avaliar a gestão?

As métricas são maneiras de justificar os projetos inovadores. Os indicadores mostram onde o dinheiro está sendo investido e como está afetando os resultados da companhia. As metas podem ser convertidas em remuneração variável e usadas como critério de avaliação e promoção dos envolvidos no projeto.


O senhor afirmou que pesquisas de mercado não são boas porque o cliente mudou. Como direcionar os negócios sem essas informações?

O consumidor responde as pesquisas de forma racional e dá respostas politicamente corretas. O focus group também é insuficiente para entender o cliente. É preciso sair da empresa e viver a vida dos seus clientes, saber como ele usa o produto, como ele está integrado a sua rotina, quais suas dificuldades e qual sua relação com a interface do produto. Se é uma empresa B2B, com uma carteira mais restrita, pode-se colocar toda a equipe dentro do cliente e viver intensamente sua rotina. Nas empresas com milhões de clientes é possível usar a tecnologia para falar com cada um deles. Há ferramentas que possibilitam interação constante, como NPS [sigla de net promoter score, sistema baseado em uma pergunta simples de satisfação com notas que variam de 0 a10] e chatbots [sistema que simula um ser humano na conversação].


O que o levou ao ambiente de startups?

Foi uma combinação de oportunidade de negócio e vontade de conhecer o ambiente. Queria atuar sem a limitação do resultado de curto prazo. É nas startups que se aprende como é crescer exponencialmente. Preciso aprender a questão do crescimento exponencial para poder levar o conhecimento para as empresas tradicionais. Os conselhos das startups são menos estruturados, as reuniões mais informais e a percepção do negócio muito diferente. Quero estar nesse mundo para ser aceito, senão os “meninos” vão achar que sou um dinossauro. Aprendo muito nesses negócios, mas também quero ganhar dinheiro.


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