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Dia a dia atrapalha a inovação

Ao ser embutida na estrutura tradicional da companhia, a inovação tende a ser vista como custo, e não como resultado

A operação cotidiana prejudica o processo de inovação na empresa. Departamentos tradicionais são estruturados para desempenhar as tarefas necessárias para manter as atividades da companhia. Produção, engenharia, TI, controladoria, jurídico, recursos humanos, entre outras diversas áreas, têm suas funções bem estabelecidas, métricas de produtividade e metas de resultados. Projetos disruptivos não deveriam ser submetidos aos mesmos critérios de avaliação desses departamentos, pois o desenvolvimento de soluções inovadoras demanda tempo e os resultados podem surgir somente no longo prazo. “A operação está focada no presente e a inovação no futuro”, resume Sergio Cavalcante, CEO do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), palestrante do Encontro de Conselheiros 2018.


Para evitar que a inovação seja contaminada por metas da operação, soluções inovadoras devem ter estrutura própria e independentes da companhia. São equipes focadas no estudo e desenvolvimento de novos produtos e serviços. Esse grupo responderia diretamente à alta direção da companhia. O conselho determinaria indicadores específicos para essa área. Desta forma, a inovação deixa de ser vista como um centro de custo e passa a ser uma solução que trará resultados a longo prazo.


O responsável pela gestão dos projetos deve ser alguém que tenha visão combinada da operação e da inovação, que Cavalcante chama de CCO (chief corporation officer), papel que pode ser desempenhado pelo próprio CEO da companhia. No entanto, Cavalcante admite que os executivos tradicionais têm dificuldade para assumir esse papel estratégico, pois alguns CEOs não conseguem fazer a transição de uma atuação focada em metas de curto prazo para uma visão de resultado futuro e, às vezes, incerto. A seguir, Cavalcante explica como vê a inovação e os novos modelos de negócio.


Por que o dia a dia da empresa atrapalha a sua própria inovação?

A estrutura organizacional não favorece a inovação. A operação está focada no presente e a inovação no futuro. A operação é interpretada como fonte de resultados, vendas e entrega. A inovação é vista como fonte de custo. Quando surgem dificuldades no negócio, a área pode ser desmontada. Como os diretores vão olhar para o futuro se as suas metas forem de curto prazo? Se o CEO tiver metas anuais, ele não vai aprovar gastos que não gerarão resultados no ano seguinte para não perder bônus. Isso não é culpa do executivo, mas do conselho. O conselho precisa deixar claro que a inovação não é um centro de custo, mas de resultado. Mesmo que seja de resultado futuro.


Onde as empresas devem alocar suas áreas de inovação?

Não aconselho que a inovação esteja dentro da operação. É preciso contar com uma equipe que veja o negócio de um jeito diferente e entenda de tecnologia.


Qual o papel do conselho nessa estrutura?

Deve existir uma conexão direta entre essa área de inovação e o conselho. O conselho vai estabelecer indicadores e metas, determinar quantas vezes a solução deve ser testada, criar cenários e buscar oportunidades. Esse projeto precisa estar conectado com alguém que olhe tanto a operação quanto a inovação. O responsável seria o chief corporation officer (CCO).


Qual é a função do chief corporation officer (CCO)?

Ele olha a organização como todo. A função pode ser exercida pelo próprio CEO ou por outra pessoa. O CCO tem que entender a inovação, ter apoio do conselho e trabalhar com metas e indicadores focados na inovação (e não na operação). A empresa pode transformar o atual CEO em alguém mais aberto à inovação, acumulando as duas funções. Essa transformação é difícil e muitos não conseguem, pois ficam presos em metas e resultados de curto prazo, olhando somente para a horizonte anual.


Qual deve ser a postura do conselho em relação à inovação?

O conselho precisa entender a cultura de inovação e perceber sua necessidade no longo prazo. Caso o conselho não perceba que a inovação é fundamental para a longevidade da empresa, talvez seja hora de trocar seus membros. Não se pode achar que uma empresa vai continuar do mesmo jeito para sempre. Não estou falando somente de inovações disruptivas, mas de inovação evolutiva. Existe uma tendência de observar o que os outros fazem e copiar, mas é possível sair na frente com o próprio produto. Há muito espaço para diferenciação.



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