Antonio Lavareda: a crise de confiança nas instituições está no cerne da crise do regime democrático
"A democracia representativa enfrenta uma crise no mundo inteiro, não apenas no Brasil", explicou o sociólogo e cientista político Antônio Lavareda, durante palestra "Sistema Político Brasileiro e as Eleições Gerais de 2018", realizada no último dia 27/03, antecedendo a Assembleia Geral Ordinária do IBGC.
Para ilustrar a questão, o sociólogo cita uma pesquisa do Pew Research Center, lançada no final de 2017, sobre o apoio à democracia representativa em 38 países, inclusive o Brasil. Ainda que o apoio a uma democracia baseada na eleição de representante seja, na média, alto (78% avaliam como positivo), outras formas não democráticas atingem altos níveis. Um quarto da população acha uma boa forma de governo um líder forte que tome as decisões sem interferência de parlamento ou da justiça, ou ainda que os militares comandem o país. Mesmo posições que diferem da democracia liberal clássica apresentaram boa aceitação na pesquisa: 49% acham positivo um governo de especialistas não eleitos e 66% defendem a democracia direta. “Esses números nunca estiveram tão altos”, afirma Lavareda.
A situação no Brasil é ainda mais aguda. Trazendo dados da última pesquisa da Fundação Getúlio sobre confiança nas instituições no país, publicada em outubro do ano passado, Lavareda aponta que apenas as Forças Armadas e a Igreja Católica ultrapassam a marca de 50% de confiança da população, marcando, respectivamente, 56% e 53%. As demais instituições pontuaram abaixo dos 40%. Os partidos políticos, o congresso nacional e governo federal tiveram por volta dos 6% a 7% de confiança.
Diante deste quadro, não é nenhuma surpresa que apenas 56% dos brasileiros dizem que a democracia é sempre melhor, segundo mais um levantamento citado por Lavareda em sua palestra, no caso uma pesquisa do DataFolha. O sociólogo destacou que o mesmo estudo aponta que 17% acreditam que, em algumas circunstâncias, uma ditadura é a melhor opção. “Não por acaso os candidatos que se posicionam no campo mais autoritário têm atingido mais ou menos esse patamar nas pesquisas”, complementa.
Impossibilidade de fazer previsões
“Nenhum modelo de prognóstico já elaborado pode ser usado para a eleição presidencial de 2018”, explicou Lavareda. Por este motivo, ele duvida de quem queira fazer previsões sobre o vitorioso das urnas em outubro deste ano.
Mesmo a lista dos candidatos à presidência ainda não está fechada. “Uma das poucas certezas é que o Lula não será candidato”, afirmou. Lavareda externou preocupação com a fragmentação do campo da centro-direita. “A cada dia aparece mais uma candidatura nesse espectro político”, comentou. O risco é desse campo político ficar fora do segundo turno, já que, nas contas de Lavareda, a extrema-direita, representada por Jair Bolsonaro, pode conseguir por volta dos 20% dos votos, quantidade semelhante que o candidato da esquerda indicado por Lula deve ter.
Na avaliação do palestrante, a recuperação e melhora na economia, que já é visível nos números, ainda não consegue influenciar os votos. Segundo ele, a retomada “precisa se descolar da dimensão apenas objetiva, e passar para dimensão subjetiva, isto é, precisa ser reconhecido e valorizado pela sociedade como um todo”. Trazendo novamente números para o debate, Lavareda aponta que dois terços da população brasileira não acham que o Brasil já saiu da crise, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte.
Pior sistema do mundo
Ao ser questionado sobre possíveis mudanças no sistema eleitoral brasileiro, o sociólogo foi taxativo na sua avaliação: “É o pior do mundo”. Para ele, a combinação de voto proporcional, em lista aberta, sem cláusula de barreira e com a possibilidade de coligações, torna as eleições caras e dificulta a eleição de candidatos qualificados. Mesmo com as mudanças previstas para 2022, com a adoção de uma “tímida” cláusula de barreira e fim das coligações, ainda sobram muitos problemas no sistema eleitoral brasileiro. Segundo ele, a adoção de voto em lista ou voto distrital, reduziria o custo da eleição em até 80%.