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Jornadeiros relatam as lições aprendidas na Jornada Técnica 2017 na Ásia

“Não aprendemos nenhum novo conceito de governança, mas como fazer com que a governança funcione”, resumiu Domingos Laudísio, coordenador do Grupo de Estudos de Governança Asiática (Gegas), sobre as lições aprendidas durante a Jornada Técnica 2017 do IBGC na Ásia.

A viagem de estudos para Singapura e Hong Kong, realizada entre 30 de maio e 07 de junho, foi tema de debate na sede do IBGC no dia 21 de agosto. Durante o evento, quatro participantes da jornada dividiram as suas impressões com o público.

Na avaliação de Laudísio, a estrutura de governança nos dois países “é muito parecida com a brasileira”. O que existe são “nuances“, provocadas por diferenças de cultura, sistema legal e ambiente de negócios. Mas, na sua avaliação, esse sistema semelhante consegue produzir excelentes resultados. Um dos motivos para esse sucesso seria o foco no longo prazo. “As empresas trabalham com um horizonte de planejamento estratégico de 20 a 30 anos”, comenta. Segundo ele, os conselhos participam ativamente desse processo, inclusive fazendo reuniões anuais específicas para a revisão desse processo, que duram de um a dois dias.

Durante a palestra, ele apontou alguns exemplos de boas aplicações do modelo de governança. Com relação à Singapura, ele destacou a Temasek, uma holding com 100% do capital pertencente ao governo e que investe em diversos setores dentro e fora do país – atualmente, apenas 29% do capital está em empresas dento de Singapura. Todos os seus conselheiros são independentes e o governo não pode socorrer a empresa, nem a empresa o governo, em caso de dívidas. “A Temasek tem garantido uma expressiva taxa de retorno de 17% ao ano”, comenta Laudísio.

Já em Hong Kong, a importância da bolsa de valores é, talvez, melhor exemplo de sucesso. O valor de mercado em bolsa é de 1.028% do PIB do antigo protetorado. “Hong Kong é a porta de saída e de entrada das empresas chinesas para o exterior”, mas empresas de outros países como Japão, Coreia do Sul, Malásia e Rússia, também têm buscado Hong Kong para abrir o capital. Outro número impressionante é que, em 2016, foram realizados mais IPOs do que nos Estados Unidos: 126 contra 29. Eles também movimentaram um valor maior do que nas bolsas americanas: US$ 25,2 bilhões contra US$ 11 bilhões.

Segundo Laudísio, para entender e poder fazer negócios tanto em Hong Kong, como em Singapura, é necessário entender dois conceitos culturais que permeiam vários países influenciados pelo confucionismo: guanxi e mianzi. O primeiro termo pode ser traduzido como conexões ou laços sociais, mas seu significado é mais complexo. Com guanxi você pode exercer influência numa rede de contatos, mas fundamentada em obrigações mútuas, reciprocidade e confiança em relação às pessoas dessa rede. O mianzi, por sua vez, diz respeito à busca pela conquista, ou manutenção, de um status moral que seja amplamente reconhecido.

Sistemas em construção

Para Maria Beatriz Bueno Kowalewski, participante da Jornada Técnica de 2017, o sistema de governança dessas localidades ainda está em desenvolvimento. Em sua palestra, ela elencou algumas questões interessantes que aparecem nos códigos de governança desses países, tais como a existência de um KPI para redução de emissões dentro das empresas em Hong Kong, ou a exigência de no mínimo um terço de conselheiros independentes em Singapura – exigência que sobe para 50%, caso o presidente do conselho não seja um conselheiro independente ou se o CEO acumular o cargo de presidente do conselho ou for parente em primeiro grau deste.

Mercado de capitais

Enquanto Hong Kong tem uma estrutura de regulamentação de mercado de capitais parecido com o brasileiro, composto por um banco central e um correlato à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além da bolsa de valores, em Singapura, existe uma série de órgãos governamentais com influência na negociação de ações, inclusive a já citada Temasek.

Flavia Mouta, diretora de Regulação de Emissores da B3 e uma das palestrantes do evento do dia 21 de agosto, comentou que questionaram os especialistas em Singapura se não havia um excesso de órgãos reguladores do mercado de capitais. “Alguns até evitavam responder, mas outros eram bem diretos em dizer que era um controle excessivo”, comentou Flávia.

Importância da Ásia

“O centro econômico do mundo está voltando para a Ásia”, avalia Heloisa Bedicks, superintendente geral do IBGC. Os números apresentados na palestra também apontam nesse sentido: 60% da população do mundo vive nessa região, e entre 2009 e 2020, a classe média da região da China e do sudeste asiático deve incorporar 135 milhões pessoas por ano. Dados relevante como esses ajudaram a impulsionar o IBGC a realizar essa que foi sua primeira jornada técnica em território asiático.


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