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Novo IFRS, que entrará em vigor em janeiro de 2018, pode trazer maior transparência às atividades da

  • Lygia Gil
  • 19 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura

A nova sede do IBGC recebeu, na manhã dessa quinta-feira (18/05), a reunião da Comissão de Finanças e Contabilidade do instituto, coordenada por Raimundo Christians. Na ocasião, os membros puderam acompanhar a palestra dos convidados Gilberto Souza, sócio da área de mercados de capitais da Deloitte, e Leonardo Santicioli, gerente de auditoria da consultoria, sobre o tema IFRS 9, instrumento financeiro que irá substituir o IAS 39, estabelecendo novas diretrizes para classificação, mensuração e contabilização de ativos e passivos financeiros.

Após a apresentação, os palestrantes deram uma entrevista exclusiva ao IBGC. Confira abaixo:

IBGC: O IFRS 9 foi publicado no mercado internacional em 2014 para substituir o IAS 39. O que mudou?

Gilberto Souza: Mudou a percepção do mercado sobre perda esperada. A norma entra em vigor no dia 1 de janeiro de 2018, então, neste momento, poucas empresas adotaram o IFRS 9 no mercado internacional e nacional. Sabemos que alguns bancos australianos e canadenses se anteciparam e implementaram o IFRS 9.

Leonardo Santicioli: Um dos grandes motivadores também foi quando o grupo do G20, em 2007/2008, definiu que os contratos de governança deveriam auxiliar o mercado a capturar perdas não somente com base no histórico, mas em situações futuras. O passado não necessariamente vai se repetir, então, é necessário ter mecanismos para capturar perdas futuras em cenários que ainda não ocorreram. Esse foi o gatilho para a nova norma.

IBGC: Por que a chegada do IFRS 9 no Brasil não chegou simultaneamente com o mercado internacional?

Gilberto Souza: É importante frisar que a data de implementação é dia 1 de janeiro, seja no Brasil ou no resto dos países. O que aconteceu foi que a tradução do IFRS 9, que é conversão do pronunciamento do CPC 48, demorou algum tempo porque teve que passar por uma audiência pública no CPC, teve que passar por uma tradução juramentada, o que gerou um trabalho de aproximadamente cinco meses de questões administrativas.

Leonardo Santicioli: Via de regra, é como se o IFRS fosse uma franquia. Os países que aderem devem assumir os pronunciamentos de maneira geral. E, no Brasil, esses pronunciamentos passam por uma tradução e eventualmente podem sofrer alguma mudança pontual em audiência pública.

IBGC: Quais os três tópicos principais abordados pelo IFRS 9?

Gilberto Souza: São classificação e mensuração; impairment e edge accounting. Os dois aspectos principais da classificação e mensuração são:

  • Modelo de negócio: como a organização enxerga o seu negócio. Que tipo de objetivo de negócio ele tem na gestão dos seus ativos e passivos. É abordado também o fluxo de caixa: o que se considera quando existe aplicação em um ativo? Se o objetivo é coletar fluxo de caixa, coletar o principal mais os juros. Ou algum outro objetivo de negócio como a retomada de um ativo, por exemplo.

  • Mensuração do ativo: se vai se mensurar esse ativo a custo amortizado, ou seja, o principal mais os juros. Ou a valor justo, ou seja, quanto ele vale no mercado primário e no mercado secundário.

Já o impairment, a não performance de um ativo, tem como principal aspecto a classificação desses ativos em três estágios: sem perda econômica; aumento significativo do risco; risco materializado. Para cada um desses estágios há uma maturação, uma fórmula de cálculo, que vai ensejar mais ou menos provisão.

O terceiro tópico é o edge accounting que é um sistema matemático de proteção dos ativos e passivos do ponto de vista de exposição a fatores econômicos. É necessário fazer com que a companhia tenha uma política de proteção de ativos e passivos. Por exemplo: se o dólar aumentar, qual será a perda? Se cair, quanto é o ganho? E aplicar essa política no dia a dia das transações. O que acontece com as companhias atualmente é que a política não é seguida, o que gera especulação e volatilidade nos balanços. Sendo assim, a principal mensagem do IFRS 9 é aplicar a política no dia a dia da organização. Não é possível entrar em especulação, deve-se defender o patrimônio dos acionistas, e, para isso, é necessário que a política da empresa esteja alinhada com a estratégia.

IBGC: Como a governança corporativa se encaixa no IRFS 9?

Leonardo Santicioli: O IFRS 9 reforça a governança porque demanda que várias áreas diferentes que estão envolvidas no processo e na geração de número financeiro de reporte, a participação no processo. É necessário que as áreas estejam engajadas em toda essa geração de informações, o que gera uma implementação de processos e controles e solidifica a governança.

IBGC: A implementação do IFRS 9 pode gerar, para as instituições financeiras, um aumento médio de 25% nas provisões. Como é possível amenizar esse impacto?

Leonardo Santicioli: Esse novo modelo de perda, que é a perda esperada, ele mantém todo o modelo já existente de perca incorrida, ou seja, ele mantém toda a base histórica ao olhar para o passado para definir seus níveis de perda, só que ele incorpora novos elementos. É olhar para o passado, mas também prever cenários futuros, que podem ter situações diferentes daquelas vividas no passado. Devido a norma agregar novos elementos, existe uma expectativa do mercado de que o volume das provisões constituídas sejam maiores e, por consequência, mais despesa. Esse número de 25% é para o mercado bancário, obviamente para segmentos diferentes podem existir perdas maiores ou menores.

O que pode ser feito para se amenizar é uma antecipação dos estudos. O quanto antes as entidades puderem se apropriar dessa norma, entender e fazer avaliações, elas podem materializar potenciais ganhos. Obviamente, esses ganhos estão limitados ao que a norma permite e dá como diretriz. A capacidade se antecipar e estudar os resultados, certamente faz com que os impactos sejam minimizados.

IBGC: Como o IFRS 9 consegue o equilíbrio da estratégia fim da organização?

Gilberto Souza: Antigamente, ao se analisar a gestão de fluxo de caixa da empresa, se via que a empresa tinha uma falta de caixa enorme. Essa falta de caixa era seguida pela venda de uma carteira de contas a receber, geralmente com a melhor taxa que a empresa tinha. Ou seja, a empresa vendia seus melhores ativos para antecipar o fluxo de caixa. Mas ao olhar para o balanço, se via que essa ação não estava refletida, pois todos os ativos eram valorados e apresentados de forma semelhante. Então, ficavam os ativos mensurados da mesma forma, custo amortizado, não discriminando aqueles que seriam vendidos e, por consequência, seriam valorados a valor justo. Esse valor justo impacta o resultado de forma diferente.

Com o IFRS 9 os ativos serão tratados de forma diferente, o que impacta diretamente o resultado. Se isso aumenta ou diminui o resultado, importa para o acionista, mas mais do que isso, a diferença estará divulgada na demonstração financeira de uma forma separada, o que facilitará a tomada de decisão desse acionista. A tomada de decisão vai estar alinhada a uma estratégia da companhia e vai estar refletida na demonstração financeira. Com o IRFS 9 é possível enxergar de maneira mais clara as estratégias da organização dentro de demonstração financeira.

IBGC: É possível afirmar que o IFRS 9 traz uma transparência maior ao negócio?

Leonardo Santicioli: A medida em que o IFRS 9 aproxima o modelo de negócio a um número contábil, que reflete melhor a operação e atividade da empresa, eu penso que traz sim uma maior transparência. É possível ver mais claramente tudo o que acontece na operação, refletido nos números.

Os bancos que quebraram em 2008 não tinham indício nenhum nos balanços que de alguma coisa estava errada. Então o mercado questionou como é possível avaliar e tomar decisões se os números não refletem uma realidade, ou se num período curto de tempo surgem eventos que mudam de forma muito significativa o cenário. Esse acontecimento fez com que todo o arcabouço de normas fosse revisto.

Gilberto Souza: O IFRS 9 é uma maneira mais clara e transparente de se conhecer que tipo de risco de crédito existe na empresa na qual se está investindo.


 
 
 

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