Purificadores Europa e Grupo Lwart: dois casos diferentes mas bem sucedidos na troca da geração no c
Purificadores Europa e Grupo Lwart: dois casos diferentes mas bem sucedidos na troca da geração no comando de empresas familiares
Uma empresa, o Grupo Lwart, que seguiu um planejamento de mais de dez anos para fazer a passagem de bastão entre as gerações na direção da companhia. A outra, a Purificadores Europa, foi obrigada a realizar a transição de maneira repentina, por conta de fatalidades. Representantes dessas duas empresas comentando sobre seus processos transição estiveram presentes na 6ª edição do Fórum Exclusivo para Empresas Familiares, organizado pelo IBGC no dia 26 de abril.
“Digo que a empresa é meu irmão gêmeo, já que foi fundada no ano em que nasci, 1984”, brinca Manuella Curti, presidente dos Purificadores Europa. Seu pai, Dacio Mucio de Souza, junto com um sócio, Antônio Carlos Camargo, fundou a companhia depois de uma enchente destruir o depósito de livros que sua empresa vendia de porta em porta. Usando a mesma experiência de coordenação de vendedores, logo o negócio decolou.
Formada em direito, Manuella não esperava assumir a empresa, apesar de trabalhar com o departamento jurídico da Purificadores Europa. Porém, duas tragédias, separadas por menos de seis meses, levaram Manuella Curti à presidência da companhia.
Seu irmão mais velho, Dacio Jr., faleceu no Natal de 2009. Ele estava sendo preparado para suceder o pai no comando da empresa. Em seguida, o pai não resistiu ao câncer que ele combatia há mais de 10 anos, e também faleceu. “Isso aconteceu duas semanas antes de acabar um processo de due diligence para uma venda da empresa”, lembra. Ela, a mãe e a irmã mais nova decidiram não vender a empresa naquele momento.
Aos 26 anos Manuella assumia a diretoria-geral da companhia. Em 2015, Camargo, o outro sócio fundador que era responsável pela fabricação do produto, também saiu do dia a dia da empresa e ela assumiu o comando integral. “Ainda engatinhamos na governança, mas trabalho para que a empresa nunca mais dependa de uma única pessoa, como era com meu pai”, avaliou. Seu pai e Camargo não tinham nem um acordo de acionistas firmado. “A relação entre a minha família e Antônio Carlos é o nosso bem mais importante, mas não é formalizada”, comentou.
Sucessão planejada
A história da entrada na terceira geração na direção do Grupo Lwart já foi um processo bem diferente. Surgida com uma sociedade de quatro irmãos da família Trecenti, ainda na década de 1950, a empresa de Lençóis Paulistas, no interior de São Paulo, cresceu e se diversificou, trabalhando com refino de óleo combustível e celulose.
Em 1999, os primos, a segunda geração da família, começou a se reunir no que foi chamado de Conselho Júnior. “Éramos jovens, a maioria de nós ainda estava na faculdade e nos encontrávamos sábado ou domingo pela manhã”, lembra Henrique Trecenti, um dos integrantes da segunda geração que acompanha os trabalhos do Conselho Familiar do Grupo. Foi nesses encontros que eles começaram a conversar sobre governança.
Quem liderava o projeto era Carlos Renato Trecenti, atualmente diretor-presidente da empresa. Carlos Renato estudara fora, nos Estados Unidos e Barcelona, de onde trouxe conhecimentos sobre governança de empresas familiares ainda pouco difundidos no Brasil.
Segundo Henrique, dos 27 primos que participavam do Conselho Júnior apenas dois quiseram trabalhar no dia a dia da empresa. Ele mesmo é advogado e não trabalha no Grupo Lwart. Em 2007, foi criado um Conselho de Família para reunir os muitos sócios parentes, conciliar todos os interesses e manter os princípios e valores familiares que ajudaram a construir a empresa. No ano seguinte criaram o Protocolo Familiar. Em paralelo, foi sendo criada a governança corporativa, com a instituição do conselho de administração.
Foi somente em 2008, quase dez anos depois do início das reuniões do Conselho Júnior que Carlos Renato assumiu a posição de Diretor Presidente do Grupo. Os dois irmãos que fundaram a empresa e ainda estão vivos, Luiz e Wilson, passaram a integrar o conselho de administração.
A família Trecenti agora prepara a próxima geração. “Precisamos criar sucessores, mais do que herdeiros”, explicou Henrique. Para isso, eles fazem reuniões frequentes, investem na formação dos sócios-familiares e na preservação da história dos Trecenti.