Confira entrevista exclusiva com o presidente do conselho das Lojas Renner, Osvaldo Schirmer
Osvaldo Schirmer é, desde abril de 2013, presidente do conselho de administração das Lojas Renner, uma das poucas empresas com o capital pulverizado no país. Antes, havia trabalhado por 26 anos no Grupo Gerdau, sendo 12 deles como vice-presidente executivo de finanças e membro do Comitê Executivo.
Com essa vivência dentro de empresas com controle definido como em corporations, ele será um dos palestrantes do 5ª Encontro de Conselheiros no próximo dia 8 de maio.
Leia trechos da entrevista exclusiva de Schirmer para o IBGC em Foco.
IBGC em Foco: O sr. teve experiência em conselhos de representativas empresas brasileiras. Qual é a diferença da dinâmica entre essas companhias de controle definido e uma empresa de controle pulverizado como as Lojas Renner?
Osvaldo Schirmer: Realmente, existem nuances entre esses dois tipos de empresas. Por exemplo, em algumas empresas o conselho é escolhido “a gosto” do controlador. Mas é importante lembrar que muitos empresários já se deram conta da importância de ter um conselho independente e que não dá para ter um conselho só com pessoas próximas que sempre digam "sim" as suas propostas. Já as empresas de controle pulverizado, o processo é diferente. O caso da Renner é muito particular já que você precisa juntar sete acionistas para conseguir ter 51% das ações, e nenhum deles indica diretamente os conselheiros. Os nomes são escolhidos seguindo um critério filosófico de garantir um conselho técnico e com diversas formações. Um exemplo foi a nossa recente renovação. Nós temos uma política de limite de idade para participação no nosso conselho, por isso, foi necessário trocar algumas pessoas. A gente parte de uma lista de nomes que se encaixavam em perfis definidos previamente. E definir um perfil, que complemente a nossa matriz de conhecimento, é mais importante que o nome. Quanto eu trabalhava na Gerdau também tive experiência com conselhos com participação de independentes. As empresas do grupo nos Estados Unidos seguiam a lógica dos conselhos americanos. Eu me recordo que quando o controlador queria seguir uma determinada direção, os conselheiros locais independentes se manifestavam contra. Prevalecia, obviamente, a vontade do controlador, mas que aproveitava as recomendações dos conselheiros independentes.
IBGC em Foco: Ainda temos poucas corporations no Brasil. Em que medida as dinâmicas de nossos conselhos se assemelham aos de companhias de mercados anglo-saxões, cujos países já têm mais tradições de organizações de controle pulverizado?
Osvaldo Schirmer: É verdade, ainda temos poucas corporations, diferente do que acontece nos países anglo-saxões em que é difícil que existam acionistas que concentrem mais de 5% ou 6% de cada empresa. Devemos, independentemente do tipo de controle, adotar algumas práticas, como ter conselhos profissionalizados, mais transparência e também um cuidado na criação de bons comitês assessórios aos conselhos. Tem uma novidade que implementamos na da Renner na última assembleia. Criamos a figura do participante de comitê. Antes, todos os participantes dos comitês deveriam ser obrigatoriamente membros do conselho de administração. Agora é possível chamar alguém para compor apenas um comitê específico. Por exemplo, ter um especialista em tributos pode ser importante para auxiliar o comitê de financeiro. Essa é uma postura nova, mas que algumas empresas já estão adotando, porque a tradicional é que os comitês são formados pelos membros do conselho.
IBGC em Foco: Em sua opinião, em termos de melhores práticas de governança corporativa, quais vantagens podem apresentar uma companhia de capital disperso?
Osvaldo Schirmer: Por exemplo, existem empresas de capital pulverizado que alguns acionistas por posição relevante ou por estarem alinhados com outros acionistas, fazem indicações para os conselhos. Diferente do caso da Renner, em que o próprio conselho escolhe seus integrantes. Já estamos há dez anos nesse modelo e os acionistas estão satisfeitos. Mas existem outros modelos em que os acionistas indicam e até mesmo vetam pessoas no conselho. No nosso caso, todo ano apresentamos uma chapa na assembleia geral. Se não há necessidade de renovação é a mesma a chapa que foi submetida à assembleia do ano anterior. De qualquer maneira, os nossos acionistas têm a oportunidade de opinar, embora seja o próprio conselho que escolha seus membros. Eles têm oportunidade, antes e durante a assembleia, de concordar ou não com a chapa. As vezes na renovação do conselho os acionistas relevantes já influem nessa composição, fazendo recomendações aos conselheiros que vão continuar. “Por que vocês não mudam o perfil do conselho? Por que vocês não trazem alguém com esse perfil?”. Há casos também mais restritos que os acionistas mais relevantes indicam efetivamente alguém para o conselho, que eles querem alguém de sua confiança no conselho. Eu não diria que uma ou outra é a melhor prática. Eu acredito que a melhor prática é a que zela para que o conselho resulte de uma matriz de conhecimentos complementares que realmente faça sentido para a natureza do negócio.