4ª sessão: Simon Longstaff fala do papel do conselho na disseminação da ética e cultura dentro da or
O último painel do 4º Encontro de Conselheiros abordou o tema Ética e Accountability, na presença de Simon Longstaff, diretor executivo do The Ethics Centre, da Austrália. O especialista, nomeado um dos AFR Boss True Leaders do século XXI, foi entrevistado por Carlos Eduardo Lessa Brandão, sócio da JFLB Consultoria e Treinamento, e Franklin L. Feder, vice-presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.
“Na América do Norte e nos Estados Unidos, ética é equivalente ao compliance. Lá, estar em conformidade é seguir um sistema de controle e regras. Basicamente, o que tenho a mostrar hoje é muito mais sobre cultura da organização, construída com um embasamento forte de valores e princípios, que norteia o que toda a organização deveria fazer”, iniciou Longstaff.
Para contextualizar sua participação, o filósofo contou um pouco da história de seu país de origem, a Austrália, que foi colonizado por criminosos e presos políticos que eram deportados da Inglaterra. Após anos de regime militar, em 1901 a Austrália declarou sua independência da coroa britânica e implementou uma estrutura federativa e parlamentar, onde homens e mulheres podiam votar e eleger seus representantes.
“Eu comecei com esta história porque ela encoraja a esperança no futuro e mostra que a cultura pode ser mudada. Este país que começou como uma colônia administrada por uma ditadura militar, em poucos anos, mudou completamente suas características. Isso tem muito a ver com governança porque a primeira forma de estruturar essa sociedade foi com a implementação de regras e punição, porque era a melhor maneira de educar as pessoas para controla-las, mas depois de décadas pode-se perceber que não era o suficiente”, explicou.
Longstaff prosseguiu sobre a evolução das leis do país que, em 1998, criou a AS 806, primeira norma do mundo a estabelecer princípios para implementação de programas de compliance. Para ele, as regras eram seguidas como um checklist. Recentemente, foi implementado no país o Australian Prudential Regulation Authority (APRA), uma regulação para bancos, instituições financeiras, companhias de seguro, que aborda a cultura organizacional como propulsora da ética.
“A cultura carrega os propósitos, valores e princípios da organização. Exatamente o que o IBGC prega em sua versão mais recente do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa. As leis da Austrália não dizem qual o tipo de cultura que as organizações devem ter, é função do conselho de administração definir isso, é sua principal obrigação”, declarou.
Para ele, mais do que dizer quais são os valores da empresa, o conselho deve efetivamente demonstrá-los para que tenham impacto nos funcionários. Para ele o cinismo de promover as regras e não praticá-las é como um ácido, que corrói as ligações dos funcionários com a organização. “Deve-se se promover um ambiente favorável para que se tomem boas decisões todos os dias e se trabalhem em nome da organização”.
Para ele, muitas pessoas não agem premeditadamente ao burlar regras. “Muitas vezes, quando pergunto o motivo de alguém ter tido um ato questionável ouço a resposta: "Fiz porque todo mundo aqui faz. É o jeito que as coisas são feitas aqui’”, disse. Simon explica que isso ocorre porque nessas organizações não há um princípio traçado, mas há uma solução: a liderança.
“O trabalho do líder é fazer a diferença, dar a direção. Líderes não vão com a correnteza, eles conscientemente escolhem a direção. Eles não aceitam a explicação de que alguma coisa é feita porque todos fazem. O líder não impõe a sua visão, mas dissemina o caminho certo de acordo com os propósitos, princípios e valores da organização”, explicou.
Segundo ele, esta liderança deve vir também do conselho de administração, que deve ter clara sua independência de não trabalhar para um grupo de acionistas, mas sim em favor da companhia. “O conselheiro deve ter claro que não são seus valores e princípios, mas sim os da companhia para a qual trabalha. Ele deve estar pronto para usar a língua da ética e dos princípios para a tomada de suas decisões”, finalizou.
Confira entrevista exclusiva com Simon Longstaff.
Confira os principais pontos discutidos no evento aqui.