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O que os conselhos de administração podem fazer para combater a baixa produtividade de empresas bras

Especialista afirma que conselhos precisam ser mais efetivos ao monitorar, analisar e cobrar a gestão

No último índice de produtividade da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em setembro do ano passado, o Brasil atingiu a sua pior posição no ranking – 81º entre 138 países. Para Paulo Feldmann, o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP), a má gestão das empresas brasileiras é uma das causas dessa baixa produtividade. Feldmann participou, no dia 20 de junho, do Fórum de Debates exclusivo para associados, realizado na nova sede do IBGC.

A má gestão não é a única causa, claro. Em sua palestra Feldmann listou uma série de problemas, como os quatro que são mais lembrados (deficiências de infraestrutura, custo trabalhista, carga tributária e o custo de capital) e também questões como a dificuldade de inovação, lentidão da justiça e a baixa capacitação da mão de obra. “Porém, estudos apontam uma correlação direta entre a melhoria na gestão e o aumento de produtividade”, apontou.

Para Feldmann, “o problema de gestão das empresas brasileiras não é de hoje”. Ele apresentou diversos estudos sobre esse tema, o mais antigo de 1991. Mas ele destacou um estudo, de 2010, feito por Nicholas Bloom, da Universidade de Stanford, e John Van Reenen, da London School of Economics. “Eles entrevistaram 6 mil CEOs de empresas grandes e médias, mas não gigantes, da indústria manufatureira de 20 países sobre as práticas de gestão”, contou Feldmann.

No ranking montado por Bloom e Reenen, o Brasil ficou em antepenúltimo lugar, na frente apenas da Índia e da China, respectivamente penúltimo e último lugar.

“Mas as multinacionais que atuam no Brasil tiveram notas bem altas nos quesitos de gestão na mesma pesquisa”, observou Feldmann. No geral, as empresas brasileiras bem avaliadas, multinacionais ou não, tinham três pontos em comum: atuavam em setores com alto nível de competição, exportavam e possuíam mão de obra altamente qualificada.

O que fazer diante desse quadro

Feldman defendeu que os conselhos de administração têm responsabilidade sobre gestão. "Não basta puxar pelos números. Esse problema crônico de má gestão precisa ser investigado, analisado e resolvido com ajuda do conselho.”

O professor acredita que os conselheiros devem cobrar dos diretores que as empresas adotem boas práticas de gestão; que haja uma política para retenção de talentos, que a maior parte dos salários, sempre que possível, seja vinculado ao desempenho. “Um dos problemas da gestão no Brasil é que as metas raramente chegam no nível do indivíduo”, lembrou.

“Começar pela cabeça do dono é um princípio”, defendeu Luiz Marcatti, também palestrante do Fórum de Debates, “porque só existe uma governança possível, a que o dono quer”, completou. Marcatti é sócio e diretor da área de gestão da Mesa Corporate Governance.

Ele lembrou do diagrama da governança das publicações do IBGC. “Aquilo deve ser entendido efetivamente como um organograma, e os conselhos precisam influenciar efetivamente na administração das empresas.”

Ele afirma que “não pode existir uma separação total entre o mundo da governança e da gestão”, ainda que os conselheiros devam saber que não devam pôr a “mão na massa”. E o conselho deve seguir a máxima hands off, nose in.

Para ele, é impossível avaliar a empresa, com segurança, apenas pelos relatórios da gestão. “Muitas vezes, os relatórios são montados para mostrar apenas o que a gestão quer”.

E como conseguir que o conselho seja efetivo? Marcatti, citando o Ran Charam no livro Board that delivers, defende seguir três princípios: focar no essencial; atentar para como as informações e os relatórios são apresentados; e garantir uma boa dinâmica de grupo.


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