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Membro do conselho de administração do Grupo RBS, Nelson Sirotsky fala sobre perenidade em empresas

Membro do conselho de administração do Grupo RBS, uma das maiores empresas de comunicação multimídia do Brasil, Nelson Sirotsky (foto) dedicou sua vida à organização fundada por seu pai, Maurício Sirotsky Sobrinho. Administrador de empresas for formação, Nelson ocupou a presidência da organização por 21 anos e a presidência do conselho por mais 7 anos.

Nelson Sirotsky - crédito da foto:Marcio Scavone

Após um estruturado processo de sucessão, em dezembro de 2015, seu sobrinho Duda Melzer assumiu os cargos de CEO e de presidente do conselho da companhia. Nesta entrevista para a IBGC em Foco, Sirotsky, atualmente um dos membros do conselho do Grupo, conta um pouco sobre como as boas práticas de governança podem influenciar a perenidade das organizações, assim como influenciaram na empresa de seu pai. Confira abaixo:

IBGC em Foco: Como a conjuntura atual, com exigências cada vez maiores em termos de regras e controles, têm impactado as empresas familiares?

Nelson Sirotsky: As empresas familiares estão evoluindo na aplicação das melhores práticas dos conceitos de governança corporativa. Cada vez mais, regras rígidas de compliance devem ser estabelecidas com transparência dentro das companhias, e todo o corpo funcional das empresas, do topo até a base, precisa ter conhecimento dessas regras. Esses princípios devem nortear o dia a dia das empresas na execução das suas missões e suas atividades, sempre buscando as melhores práticas. Para que isso seja efetivo, o ponto de partida é que a empresa tenha um Conselho de Administração independente e uma diretoria com conhecimento profundo dessas regras. As empresas familiares estão evoluindo muito neste sentido. E evolução é adotar práticas de governança, é ter manuais de conduta e de comportamento, é criar mecanismos de denúncia internos e externos e ter consequências bem definidas para os casos de infração ou desrespeito às regras.

IBGC em Foco: Por que a adoção das boas práticas de governança corporativa são fundamentais para a perenidade das organizações de controle familiar? Quais seus benefícios?

Nelson Sirotsky: As boas práticas de governança corporativa são fundamentais para qualquer organização, inclusive as de controle familiar. Neste sentido, qualquer tipo de empresa usufrui dos benefícios de sua adoção, que são os mesmos. Uma empresa pode pensar na sua perenidade até mesmo antes da elaboração da sua estratégia, ao definir os seus valores de gestão, valores que devem ser norteados pelas boas práticas de cada setor e dentro de uma gestão com consequência. Cada vez mais os consumidores estão valorizando, no seu ato de consumo de produtos ou serviços, o nível de qualidade da governança das empresas e a sua postura ética. Cada vez mais o cliente reconhece o valor dessas empresas no momento da compra. Por isso, é fundamental estabelecer essa relação de fidelidade e lealdade entre consumidor e empresa para garantir a sua perenidade. É preciso sempre se comparar com as empresas de referência, adotar as melhores práticas da indústria, pensar no longo prazo e planejar a estratégia. São princípios da governança que vão beneficiar a empresa ao longo do tempo e garantir a sua sustentabilidade.

IBGC em Foco: Qual a influência da cultura organizacional para a efetividade da governança corporativa nas organizações de controle familiar?

Nelson Sirotsky: A cultura organizacional de qualquer empresa privada deve refletir os valores e os princípios dos seus controladores. Por consequência, a cultura organizacional das empresas familiares é muito marcante porque são organizações que tem uma presença mais forte e permanente dos seus fundadores no dia a dia, com valores e comportamentos que contaminam a companhia e se reforçam na rotina da operação. Então, essa cultura organizacional impacta muito na efetividade da governança. E é muito importante que esses valores e princípios em que a família proprietária acredita sejam comunicados e praticados interna e externamente. Tem que ser um exercício contínuo para que esses princípios não se percam.

IBGC em Foco: É papel do conselho de administração disseminar a cultura da organização pela empresa? O órgão deve dar o exemplo?

Nelson Sirotsky: O papel de disseminar a cultura da organização pela empresa não é apenas do conselho de administração, mas do conselho, dos conselheiros, dos sócios e acionistas, do presidente executivo e seus executivos. Toda a organização, todos os membros da governança da empresa devem ser responsáveis por esta função e devem contaminar a empresa com seus valores e princípios por meio de um processo de atitudes e de comportamentos no dia a dia. Não é apenas uma questão de expressar, publicar ou ter quadros com os valores. O fundamental é a prática. É isso que vai garantir a sua permanência.

IBGC em Foco: É saudável ter membros da família na composição de um conselho de administração?

Nelson Sirotsky: É legítimo e natural que um conselho de administração de uma empresa familiar tenha membros da família participando. O mais importante é que esses familiares sejam pessoas aptas e tenham sido preparadas para desempenhar este papel para evitar que sua eventual incapacidade não venha a prejudicar a empresa. Mas, mais importante do que isso, é desejável também que esses membros da família sejam acompanhados por conselheiros independentes, profissionais com um olhar externo à empresa e que tenham o mesmo peso que os familiares no conselho. Cada pessoa é um voto, e todos são independentes entre si. É preciso ainda ter um processo de decisão claro, um bom sistema para a tomada de decisão, em que cada conselheiro, sendo ou não da família, tenha uma participação efetiva, com valor de voto, e que o regimento preveja como se dão as decisões por meio da votação. Mas é possível, também, existir um conselho de administração de empresa familiar em que a família não participe e delegue a terceiros a tarefa de conduzir o negócio. Isso não é um problema, é apenas um modelo de gestão escolhido pela família e que pode funcionar perfeitamente.

IBGC em Foco: É possível a implementação de uma gestão de riscos corporativos em uma empresa familiar? Essa gestão de risco deve ser acompanhada pelo conselho ou pelo CEO?

Nelson Sirotsky: Não é apenas possível, mas desejável e indispensável nos dias de hoje que empresas familiares implementem gestão de riscos corporativos. Uma gestão de risco bem estruturada e bem executada é um elemento diferenciador da governança corporativa e gera valor para a empresa. Há muitos exemplos admiráveis hoje no Brasil de empresas que desenvolvem este tipo de ação. O Grupo Algar, a Fibria e o Grupo RBS, do qual sou acionista, são exemplos de empresas familiares que adotaram a gestão de riscos corporativo. Essa gestão deve ser acompanhada permanentemente pelo conselho de administração e também pelo CEO, sua diretoria e pelos acionistas. Esse rigor é fundamental para que haja controle dos principais riscos, e o principal risco é a não execução dos valores da empresa conforme estão expressos.

IBGC em Foco: O tema sucessão ainda é um tabu em muitas empresas familiares. Pela sua percepção, fundadores de empresas já entendem a importância de preparar sucessores?

Nelson Sirotsky: Não acho que o tema da sucessão seja tabu. Cada vez mais, as empresas familiares, seus fundadores ou mesmo a segunda e terceira gerações já estão se preparando e organizando processos de sucessão de forma profissional, seja dentro da família ou com membros externos. Este é um papel relevante do conselho de administração: cuidar e conduzir a sucessão do CEO e das principais lideranças da empresa. É preciso ter um processo bem estabelecido, com avaliações, feedback 360°, PDIs (planos de desenvolvimento individual), projetos de acompanhamento e desenvolvimento. São regras que já fazem parte do dia a dia de muitas empresas familiares e que estão sendo conduzidas de maneira muito positiva. Uma sucessão bem planejada e executada é um elemento de estabilidade da empresa e faz parte dos conceitos norteadores da governança corporativa.


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